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domingo, 27 de fevereiro de 2011

EDUCAÇÃO DE HOJE ADIA O FIM DA ADOLESCÊNCIA


Há pouco tempo recebi uma mensagem que me provocou uma boa reflexão. O interessante é que não foi o 
conteúdo dela que fisgou minha atenção, e sim sua primeira linha, em que os remetentes se identificavam. Para ser 
clara, vou reproduzi-la: “Somos dois adolescentes, com 21 e 23 anos...”. 
 Minha primeira reação foi sorrir: agora, os jovens acreditam que a adolescência se estende até, pelo menos, 
aos 23 anos?! Mas, em seguida eu me dei conta do mais importante dessa história: que a criança pode ser criança 
quando é tratada como tal, e o mesmo acontece com o adolescente. E, se os dois jovens adultos se vêem como 
adolescentes, é porque, de alguma maneira, contribuímos para tanto. 
 A adolescência tinha época certa para começar até um tempo atrás, ou seja, com a puberdade, época das 
grandes mudanças físicas. E terminar também: era quando o adolescente, finalmente, assumia total 
responsabilidade sobre sua vida e tornava-se adulto. Agora, as crianças já começam a se comportar e a se sentir 
como adolescentes muito tempo antes da puberdade se manifestar e, pelo jeito, continuam se comportando e 
vivendo assim por muito mais tempo. Qual é a parcela de responsabilidade dos adultos e educadores? 
 Pais e professores, quando educam, visam à conquista da autonomia e não podem perder de vista esse 
objetivo. Assim, ensinar uma criança pequena a se calçar sozinha, por exemplo, é apenas uma parte do processo 
educativo que supões que, assim que possível, ela caminhe com seus próprios passos. É claro que isso não acontece 
de uma hora para outra, mas em etapas. Mas há de chegar o dia em que ela vai escolher os sapatos que calçar, 
quem sabe comprar com dinheiro fruto de seu trabalho, via usá-los para andar por onde quiser e vai ter de se 
responsabilizar por suas escolhas. Isso é ser adulto. 
 Qual a diferença em relação ao adolescente? Justamente essa: o adolescente está a caminho de ter 
autonomia sobre sua vida. Os pais, mesmo que à distância e discretamente, ainda tutelam os passos do filho 
adolescente – e não sem razão. É que, para os adolescentes, ainda é prioritário e natural pensar primeiro no tempo 
presente, no prazer, na diversão e só depois – às vezes – nas conseqüências que suas atitudes e comportamentos 
podem provocar. 
 É difícil tornar-se responsável por tudo? Sem dúvida é, e os adultos sabem muito bem disso. Mas há 
ganhos, pelo menos em relação à  vida  dos adolescentes: o da liberdade possível e o da independência, por 
exemplo. E, certamente, um adulto que se considera adolescente aos 23 anos não deve sentir-se responsável por sua 
vida. O que ele talvez não saiba é que isso o impede de ser independente.  Hoje, por conta de diversos fatores, muitos pais agem de modo confuso, mas sempre em nome da educação 
para a autonomia. Garotas e garotos de 12 a 15 anos são liberados para freqüentar festas noturnas quase sem limites 
de horário e sem adultos por perto, mas, em compensação, não têm autonomia para administrar sozinhos a vida 
escolar, porque os pais esperam determinados resultados e, para tanto, precisam verificar se o filho cumpre o que 
desejam. Professores universitários tratam seus alunos como adolescentes incapazes de discernir direitos e deveres 
e, depois, reclamam da falta de interesse deles pelo conhecimento. 
 Exemplo desses não falta numa sociedade que trata seus cidadãos de modo infantilizado e os faz acreditar – 
e muitos acreditam – que isso é feito pelo bem estar deles. Por isso é bom que os pais e educadores pensem com 
carinho na educação que praticam. Para que crianças e adolescentes atinjam a vida adulta, é preciso que sejam 
tratados de modo coerente e sejam responsabilizados,  pouco a pouco, por aquilo com que são capazes de arcar. 
Afinal, a adolescência tem de terminar. 
                Rosely Saião. “S.O.S. Família”. Folha de São Paulo.
25 abri. 2002. Caderno Equilíbrio.

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